terça-feira, 2 de fevereiro de 2010



Sublinho o que tenho



Marcados pelo que não se tem
Ter é acompanhado por aquilo ainda não desejado.
Remédio para curas superficiais,
De feridas cuticulares.
Tempestades diante triangulações infindáveis
Se tornam monótonas - e notórias - crises
Estados disciplinares da inquietude
Acomodados no desespero
Saídas pensadas no sobre-plano
Compassadas em trajetórias
Ridiculamente fúteis.
Sereis pura tolice, buscando no presente
Quando apenas quero viver de futuro
Um herói quando aludido no passado
Cheio de glória sustenta o ímpeto
Nos desejos de ser aquilo que não foi.
No estar ouço lamurios e choros
Apenas desgraças disputadas
Alheias na remediação daquilo que sou









Autor: Marconi Moura
Imagem: Walter B. Lane


Nota do editor: Neste poema, temos, na verdade, não apenas um, mas dois. Lendo-se apenas o que sublinha o autor, chegamos a um, por assim dizer, "segundo mundo". Lendo as entrelinhas de nós mesmos podemos chegar a mundos outros, diversos. 

3 comentários:

  1. Nos sustentamos no "ter" e, de fato, o que nos pertence? Temos coisas e coisas que, mesmo sendo tantas, não nos servem e só superficialmente nos acalmam? "Temos" tantas coisas que nos perdemos entre as coisas, tanto nos identificamos, logo coisificamo-nos.
    Eu fico com Manoel de Barros: "Perder o nada é um empobrecimento".

    Seu texto é fantástico!

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  2. Muito interessante o poema, não consegui me concentrar em lê-lo a uma primeira vista, porque minha atenção ficava nas palavras sublinhadas, mas já numa segunda leitura consegui entendê-lo, ou assim espero, rs.

    Mto bom!

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  3. assim é na vida... a princípio conseguimos atentar-nos apenas àquilo que é posto em destaque. Com o tempo, quem sabe, conseguimos olhar as minúcias do cotidiano... Acho que sua "falta de concentração" é bem coerente com a própria idéia da poesia e casa bem com a idéia do blog de que o cotidiano torna-se um tanto viciante, de modo que nos acostumamos ver um tipo de coisas e outras já nos são mais difíceis!
    Estou certa que você entendeu! A idéia é realmente ampliar as compreensões.

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