quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010



Falta – de sono...

Fico aqui sentado, sem saber o que dizer, o que falar, o que fazer. Acho que o son(h)o dessa noite resolveu me esquecer e fico aqui a brincar com as palavras a enlouquecer o restante da memória que me serve a essas alturas findadas de um dia cansativo. Minha alma pede bis das coisas boas que vivi, dos sorrisos que consegui gentilmente arrancar dos rostos tristes. Tarefa árdua e absurdamente confortante... mas há sentado ali um garoto que quase não sorri. Amuado, sempre quieto no cantinho da sala inerte em um banquinho, sempre á meia-luz de penumbra. Parece esse clima lhe agradar. Assim ainda com receio crio coragem para me aproximar e assim o faço, a passos curtinhos e extremamente meticulosos. O chão de taco faz barulho quando lhe toco a sola de meu sapato social marrom bico quadrado. Tento recuar e arrasto o pé para trás, me dá medo, mas algo me diz que não há como voltar atrás... o terreno que está nas minhas costas desabou faz tempo e eu nem percebi, afinal parecia que estava ali poucos segundos. Quando olhei minhas mãos, me assustei! Elas cheias de rugas... parecia que haviam me colocado numa máquina do tempo e eu não tinha mais escolha: era hora de encarar o menino no canto da parede, que, por incrível que possa parecer, continuava um menino – e eu já velho. Passados anos, me envergonhei por estar na mesma posição, com a mesma atitude. Agora com o porém das inevitáveis marcas que o tempo não me poupou. Nada mais do que natural. Eu só não imaginava que seria assim tão rápido. Eu sabia que mais três passos e meio, chegaria ao meu objetivo-destino que tracei desde o início. A trajetória até ali havia sido longa e cansativa, embora eu tivesse a sensação de ter ficado estacionado no mesmo lugar. Eu já homem idoso, já vivido e experiente, não deveria mais temer qualquer coisa na minha vida, mas confesso que a única coisa que temia a esse tempo era a própria vida. Mas sobre isso conto depois... por fim, me aproximei com um pouco mais de sabedoria e disse: olá rapazinho! O que fazes aí sozinho? Depois de alguns 7 segundos ele me dirige o olhar, sombrio e esperançoso, mas não me dispensa nenhuma palavra. Aí, faço uma nova tentativa: Qual o seu nome? Sem hesitar, me responde: Sou o Amor e estive aqui durante toda a sua vida, foi bom ter me descoberto, ainda que se você olhar para trás verás que a morte lhe serve às costas! 
Sempre há tempo?

Imagem: Sad Clow por James Cane
Autora: Hellen Tavares

19 comentários:

  1. Muito bonito e Profundo...
    Você vai longe, continue escrevendo para que podemos ler e refletir sobre as coisas na vida.
    Adorei,
    Beijos
    Miriane Diniz

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  2. Simplesmenteee verdadeiroo!
    Pefeitoo aa vidaa sempre nos daa uma chance um
    novoo recomeço,nos q naoo sabemos aproveitar !
    By:Leticia

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  3. Hellen,
    que maravilhoso este texto!
    Parece que fui junto aos passos, ao mesmo tempo que me senti no lugar do menino. Um caminho de encontro a nós mesmos ....
    Adorei!

    Beijos
    Marquinhos

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  4. otimo texto parabéns,..

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  5. muuuuuuuuuuuuito lindo hess...
    nao sabia desse seu lado poeta..rsrs
    amei mesmo... parabens!!!
    bjus

    Débora Rossi

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  6. Oi Hellen,
    Realmente demais...Parabéns pelo seu talento.
    Essas palavras são a realidade, muitas vezes nos encontramos em situações em que queremos voltar atrás e não tem jeito...E muitas vezes só percebemos que era algo bom tarde demais...
    Bjusss

    Carol

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  7. Lindo texto, nos faz olhar mais para dentro de nós, e encarar os nossos medos, e demonstra que nunca é tarde de mais para recomeçar!!!

    Abs

    Mateus

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  8. Hellen,
    Bacana demais!!!
    Essas palavras me fazem refletir profundamente sobre o AMOR, esse tal sentimento que nos pega de um jeito tão diferente e que nos deixa cego...
    Por isso eu digo sempre: Não espere perder, para dar valor.

    Kesley Dias

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  9. A todos, meu prestígio e saudação... os comentários são muito motivadores. O que cada um escreve é considerado, e extremamente gratificante. Agradeço o carinho! Espero sempre contribuir positivamente para boas ideias e reflexões. Um abraço apertado! ;o)

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  10. Parabens por desenhar com as palavras. Essa é a sensação que tive ao ler. Imagens nítidas.
    Aguardo os próximos episódios, e espero que a série não se acabe.

    Henrique

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  11. NUSGA!!!
    Por isso é sempre bom olhar em volta e limpar a poeira dos cantos. Porque sempre há tempo sim, mas as vezes não o bastante para o tanto que se planeja!!!

    Tah d+ viu fiota!?
    Bjos!

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  12. Perfeitooo Amigaaa ,
    muito bom msm .. não disperdice o seu talento ! vai longeee !
    Bjosss s2

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  13. Nossa...amei o texto...mto lindo...
    Vc tem mto talento....
    Adorei de coraçao...continue escrevendo palavras lindas assim....vc vai longe....

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  14. Mto bacana!
    Nunca vou conseguir escrever um desse parabens!
    Bjos Guilherme

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  15. Hellen... como ja tinha dito, ja virei seu fã. Parabéns pelo texto. Voce tem o dom de escrever temas fortes usando as palavras com harmonia e suavidade. Continue nesse caminho, pois ele a levará muito longe... Bjos do amigo, Petronio

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  16. Gostei muito Hellen; parabéns. Uma prosa com cores de inverno, próprias para o tema da solidão e autoconhecimento. hehe. Um abraço do "vizinho" da mesa de bar. kkk!

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  17. Para Hellen

    ...fico aqui, a brincar com as palavras, a enlouquecer o restante da memória que me serve, a essas alturas findadas de um dia cansativo...

    Simplesmente lindo, parabéns!

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