Sublinho o que tenho
Marcados pelo que não se tem
Ter é acompanhado por aquilo ainda não desejado.
Remédio para curas superficiais,
De feridas cuticulares.
Tempestades diante triangulações infindáveis
Se tornam monótonas - e notórias - crises
Estados disciplinares da inquietude
Acomodados no desespero
Saídas pensadas no sobre-plano
Compassadas em trajetórias
Ridiculamente fúteis.
Sereis pura tolice, buscando no presente
Quando apenas quero viver de futuro
Um herói quando aludido no passado
Cheio de glória sustenta o ímpeto
Nos desejos de ser aquilo que não foi.
No estar ouço lamurios e choros
Apenas desgraças disputadas
Alheias na remediação daquilo que sou
Autor: Marconi Moura
Imagem: Walter B. Lane
Nota do editor: Neste poema, temos, na verdade, não apenas um, mas dois. Lendo-se apenas o que sublinha o autor, chegamos a um, por assim dizer, "segundo mundo". Lendo as entrelinhas de nós mesmos podemos chegar a mundos outros, diversos.