domingo, 28 de fevereiro de 2010




Pego num lápis (os lápis são ótimos pois escrevem em qualquer posição, mesmo em papel molhado, ninguém os rouba, e se caem num tanque boiam) e anoto no verso de um recibo: "Não tomar decisões é um ato muito importante". Guardo o papel junto a carteira de Identidade.

Imagem: b'slt
Autor: NADA

domingo, 21 de fevereiro de 2010


Sou 
capaz 
de ser
tudo em 
mim mesma
sou ele
sou 
 você
não aprendi, contudo,
como me ser
...
Talvez seja eu toda essa diversidade

Imagem: b'slt
Autor: b'slt

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010



Falta – de sono...

Fico aqui sentado, sem saber o que dizer, o que falar, o que fazer. Acho que o son(h)o dessa noite resolveu me esquecer e fico aqui a brincar com as palavras a enlouquecer o restante da memória que me serve a essas alturas findadas de um dia cansativo. Minha alma pede bis das coisas boas que vivi, dos sorrisos que consegui gentilmente arrancar dos rostos tristes. Tarefa árdua e absurdamente confortante... mas há sentado ali um garoto que quase não sorri. Amuado, sempre quieto no cantinho da sala inerte em um banquinho, sempre á meia-luz de penumbra. Parece esse clima lhe agradar. Assim ainda com receio crio coragem para me aproximar e assim o faço, a passos curtinhos e extremamente meticulosos. O chão de taco faz barulho quando lhe toco a sola de meu sapato social marrom bico quadrado. Tento recuar e arrasto o pé para trás, me dá medo, mas algo me diz que não há como voltar atrás... o terreno que está nas minhas costas desabou faz tempo e eu nem percebi, afinal parecia que estava ali poucos segundos. Quando olhei minhas mãos, me assustei! Elas cheias de rugas... parecia que haviam me colocado numa máquina do tempo e eu não tinha mais escolha: era hora de encarar o menino no canto da parede, que, por incrível que possa parecer, continuava um menino – e eu já velho. Passados anos, me envergonhei por estar na mesma posição, com a mesma atitude. Agora com o porém das inevitáveis marcas que o tempo não me poupou. Nada mais do que natural. Eu só não imaginava que seria assim tão rápido. Eu sabia que mais três passos e meio, chegaria ao meu objetivo-destino que tracei desde o início. A trajetória até ali havia sido longa e cansativa, embora eu tivesse a sensação de ter ficado estacionado no mesmo lugar. Eu já homem idoso, já vivido e experiente, não deveria mais temer qualquer coisa na minha vida, mas confesso que a única coisa que temia a esse tempo era a própria vida. Mas sobre isso conto depois... por fim, me aproximei com um pouco mais de sabedoria e disse: olá rapazinho! O que fazes aí sozinho? Depois de alguns 7 segundos ele me dirige o olhar, sombrio e esperançoso, mas não me dispensa nenhuma palavra. Aí, faço uma nova tentativa: Qual o seu nome? Sem hesitar, me responde: Sou o Amor e estive aqui durante toda a sua vida, foi bom ter me descoberto, ainda que se você olhar para trás verás que a morte lhe serve às costas! 
Sempre há tempo?

Imagem: Sad Clow por James Cane
Autora: Hellen Tavares

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010



Sublinho o que tenho



Marcados pelo que não se tem
Ter é acompanhado por aquilo ainda não desejado.
Remédio para curas superficiais,
De feridas cuticulares.
Tempestades diante triangulações infindáveis
Se tornam monótonas - e notórias - crises
Estados disciplinares da inquietude
Acomodados no desespero
Saídas pensadas no sobre-plano
Compassadas em trajetórias
Ridiculamente fúteis.
Sereis pura tolice, buscando no presente
Quando apenas quero viver de futuro
Um herói quando aludido no passado
Cheio de glória sustenta o ímpeto
Nos desejos de ser aquilo que não foi.
No estar ouço lamurios e choros
Apenas desgraças disputadas
Alheias na remediação daquilo que sou









Autor: Marconi Moura
Imagem: Walter B. Lane


Nota do editor: Neste poema, temos, na verdade, não apenas um, mas dois. Lendo-se apenas o que sublinha o autor, chegamos a um, por assim dizer, "segundo mundo". Lendo as entrelinhas de nós mesmos podemos chegar a mundos outros, diversos.