Técnica de Escrita Alemã
Não se apaga o passado. Não excluímos da nossa vida as pessoas com a facilidade que o fazemos nas redes sociais. Nem as adquirimos de volta com a mesma facilidade com a qual as adicionamos. Não se apaga o passado.
Infelizmente, mesmo com as reservas que fazemos, não há muros capazes de impedir nossas mágoas. Mesmo com tantas ressalvas, ainda nos alcançam os enganos, nos alcançam as mágoas e o pesar de não ter feito uma escolha acertada, de não ter sido o "eu" que bate a porta e se fecha. Mas este "eu" realmente não sou eu - o eu que se fecha e bate a porta. Também não sou o "eu" que escancara e pula a janela alheia.
Alijado fui eu. Atirado à correnteza. Algum frio inóspito me fez pensar. Enquanto havia festa, me fez pensar. Um tanto enxovalhado, depois de dias a navegar, não me apossei de nenhum porto, não soube ancorar. Dias de terra, dias de mar. Terra distante, ecos ao acaso. Eu busco a paz, mas a paz não se persegue. Não se persegue a paz, a paz se encontra, como tantos encontros na vida. E como o amor, é preciso ter para encontrar.
Tenho imensidões de areia, de ensandecer homem nu. Sento-me à beira e pergunto-me: " fui um homem tolo?". Acreditar no sonho, quem pôde? Os sonhos nos afrontam mais que a própria realidade, pois, é no confronto entre eles que se fazem as entrelinhas, os desacordos e as divisões inexatas.
Um homem nunca deveria duvidar de seus sentimentos, sobre sua realidade, não há dúvidas. Efetivo, como tudo na vida, definitivo, como uma vida não retoma o passado, incerto, como um barco não remado, à deriva na tempestade. Uma mente aberta, como um caderno, a espera de facilidades. Não se apaga o passado.
Imagem: Ressaca na Praia Brava/Itajaí-SC por Ronaud Pereira
Texto: Kamilla Mota